Deputado catarinense, autor do projeto que acaba com a alteração de horário, alerta para ausência de economia de energia e prejuízos à saúde

Um decreto publicado em dezembro de 2017, determina que o horário de verão deste ano seja mais curto. Serão 15 dias a menos. Até 2017, a data de início era o terceiro domingo de outubro. A partir deste ano, o horário de verão passará a começar no primeiro domingo de novembro, que será o dia 4.

Dormir tarde, acordar cedo e descansar pouco é a rotina de quem ainda enfrenta o horário de verão. O dia a dia de quem mora no Sul, Centro Oeste e Sudeste do país, é enfrentar dias mais longos e muito mais cansativos. E o pior: além de não gerar economia de energia, traz malefícios à saúde de milhões de brasileiros.

Há 10 anos, o deputado federal Valdir Colatto (MDB/SC), luta na Câmara dos Deputados para acabar com este horário, através do Projeto de Lei (PL) 397/2007. Um dos motivos para isso é a comprovação de que não há economia de energia. Estudos do Ministério das Minas e Energia reconhecem que com a alteração nos padrões de consumo, os picos não ocorrem mais ao final da tarde, mas sim, ao meio dia.

Uma estimativa do Operador Nacional do Sistema (ONS), aponta que a economia gerada durante o último período de vigência do horário de verão foi de menos de R$ 1,00 por brasileiro. Atualmente, o horário é mantido em três regiões do país. Apenas no Norte e Nordeste não existe essa alternativa.

O pior não é a “não-economia”, mas sim, os problemas causados à saúde de milhões de brasileiros. Um estudo feito no Brasil aponta que as internações de pacientes com Diabetes Mellitus aumentam em 6 a 8% nos estados que adotam este horário.

“É uma questão de saúde, tendo em vista todos os problemas que traz para o nosso dia a dia. Além disso, o governo já comprovou que não há economia de energia. Então, pra que prejudicar a população brasileira? O que seria para economizar na energia, você gasta no SUS. Precisamos acabar com o horário de verão para trazer mais qualidade de vida às famílias brasileiras”, destaca o parlamentar.

A agricultora e empreendedora Rosângela Carbonar Guedes de Souza, de São Joaquim, é um exemplo de quem não se adapta ao horário. “Para o povo do interior que trabalha é muito cansativo. A gente dorme pouco e trabalha muito, sofre demais. Vai ver o horário, deitar, já é meia noite, uma hora. Às 4 e meia da manhã já está claro, e daí o que a gente dorme? Nada. É um absurdo”, desabafa ela.

Países da União Europeia podem acabar com o horário de verão

Entre julho e agosto, a Comissão Europeia realizou uma consulta pública para saber a opinião da população dos países-membro sobre a adoção do horário de verão. A consulta foi motivada pela manifestação de milhares de cidadãos contrários às alterações de horário e uma revisão do modelo atual foi solicitada pelo Parlamento da União Europeia, em fevereiro, usando como argumento central as consequências negativas que o horário de verão para a saúde humana. Até hoje as mudanças se justificavam, em geral, para economizar energia (principalmente carvão para produção de eletricidade).

O resultado da consulta, que envolveu mais de 4,6 milhões de europeus (a maior participação já registrada pela Comissão), apontou que 84% dos entrevistados foram a favor da abolição das mudanças sazonais do relógio.

“A União Europeia deu um grande exemplo para os quase 60 países que ainda adotam o horário de verão no mundo: ouviu sua população. Diariamente eu recebo manifestações, por email ou pessoalmente, de cidadãos que não conseguem se adaptar a esse horário. Precisamos ouvir nossa população!”, enfatizou Colatto.

Tramitação

O Projeto de Lei 397/2007 tramita na Câmara dos Deputados em caráter conclusivo (não precisa ser votado pelo Plenário) e tem que ser analisado pelas comissões de Seguridade Social e Família; de Minas e Energia; e de Constituição e Justiça e de Cidadania.

No site do deputado, é possível ter acesso a dados e estudos sobre os malefícios do horário de verão. Disponível no link: http://valdircolatto.com.br/topicos-e-materiais/horario-de-verao/

Os 10 motivos do deputado Colatto para acabar com o Horário de Verão:

1 – Não há economia de energia

(Novos estudos do Ministério de Minas e Energia reconhecem que com a alteração nos padrões de consumo, os picos não ocorrem mais ao final da tarde, mas sim, no meio dia)

2 – Mais internações de diabéticos

(Estudo feito no Brasil aponta que as internações de pacientes com Diabetes Mellitus aumentam em 6 a 8% nos estados adotantes da política)

3 – Mais mortes por infarto

(Tese de doutorado brasileira, com base em dados do Sistema Único de Saúde (SUS), constatou um aumento de 7 a 8,5% no número de mortes decorrentes de infarto agudo do miocárdio)

4 – Aumento de acidentes de carro

(Há um aumento de 8% na primeira segunda-feira do horário. Acidentes de trânsito correlacionados ao álcool também aumentam na primeira semana)

5 – Redução de sono

(Na mudança de horário, perdemos a última fase do sono (que ocorre próximo ao despertar) – o sono REM. Esta fase é justamente a responsável pelo equilíbrio do corpo)

6 – Redução da produtividade e qualidade de vida

(Uma das consequências da redução de sono é o aumento dos níveis de corticosterona, o hormônio do estresse. Com isso, ocorre o comprometimento da memória, redução de performance e estado de alerta, o que influencia até nas relações pessoais)

7 – Acidentes de trabalho

(Há um aumento de quase 6% nos acidentes de trabalho nas semanas iniciais, desabilitando trabalhadores por lesão. Estudos americanos mostram dados que indicam ainda a redução no volume de negócios)

8 – Aumento no número de suicídios

(A taxa de suicídios aumenta quando começa o horário de verão. Para que pessoas com depressão se mantenham emocionalmente equilibradas, é necessário muito mais sono REM que uma pessoa normal)

9 – Sistema imunológico comprometido

(A função imunológica fica temporariamente comprometida enquanto o seu corpo se recompõe dessa mudança de hora e sono)

10 – Perdas no campo

(A mudança no horário causa estresse nas vacas leiteiras, já que os agricultores tiram leite uma hora antes. Além disso, todo o funcionamento da propriedade rural acaba sendo alterado, o que gera prejuízos a saúde dos produtores rurais e ao rendimento no campo)

Fonte: MACHADO, Weil Toro. Três ensaios sobre os efeitos econômicos do horário de verão utilizando regressão descontínua.

Recife: UFP, 2016. 82f. Tese (Doutorado em Ciências Econômicas ) – Programa de Pós Graduação em Economia, Universidade Federal de Pernambuco, 2016.