“Pessoas acometidas com câncer de laringe precisam de mais atenção do SUS”, alerta o deputado
A aquisição de uma “laringe eletrônica” pode acabar com o silêncio de milhares de pessoas no Brasil. Dados levantados pela Associação de Câncer de Boca e Garganta (ACBG), e enfatizados no plenário da Câmara dos Deputados, pelo deputado federal Valdir Colatto (PMDB-SC), apontam que, somente em 2016, foram registrados, 7.350 novos casos de câncer de laringe, sendo 6.360 homens e 990 mulheres.
Os laringectomizados – pessoas acometidas por câncer de laringe que tiveram o órgão retirado – podem voltar a se comunicar de forma relativamente barata, mas para isso, precisam de apoio do governo federal. A distribuição gratuita do aparelho pelo Sistema Único de Saúde (SUS) foi defendida durante audiência pública da Comissão de Assuntos Sociais (CAS) nesta quinta-feira (14).
O equipamento, segundo a vice-presidente da Associação de Câncer de Boca e Garganta (ACBG), Melissa Ribeiro Medeiros, custa em torno de R$ 1,7 mil, podendo chegar a R$ 1,3 mil, dependendo da negociação.
Com apoio do deputado Colatto, a ACBG já fez o pedido de inserção da “laringe eletrônica” à Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec), mas ainda não obteve resposta. “O Ministério da Saúde precisa atender esse pleito, já que garantir a distribuição do equipamento garante um direito básico do cidadão: a expressão por meio da fala”, completou Colatto.
O representante do Ministério da Saúde, Sandro Martins, afirmou que o processo está em fase de avaliação do impacto orçamentário e, na opinião dele, não deve ter uma tramitação complicada na comissão, já que os preços não são exorbitantes.
Prevenção
A fonoaudióloga da ACBG, Luciara Giacobe, explicou que anualmente 4.141 pacientes acometidos por câncer de laringe morrem, quase sempre esperando pela radioterapia, que é rara e falha no SUS.
Os sobreviventes, que perdem a voz, passam a respirar por um buraco na traqueia chamado estoma. Eles enfrentam problemas para engolir alimentos, dificuldades respiratórias e de olfato, problemas emocionais e alteração na qualidade de vida. Não poderão nunca mais, por exemplo, tomar banho de piscina ou de mar, já que há risco de a água entrar pelo estoma, causando pneumonia e outras complicações.
Luciara defendeu o investimento em políticas públicas de prevenção, já que a causa do câncer de laringe quase sempre é externa: fumo, bebidas alcoólicas e infecções pelo vírus do HPV. Sugeriu ainda palestras nas escolas, campanhas nacionais e pediu a aprovação de um projeto do deputado Colatto que cria o Dia Nacional do Laringectomizado em 11 de agosto.
Ela solicitou também atenção ao acolhimento e acompanhamento psicológico e fonoaudiológico dos sobreviventes, que precisam reaprender a usar os músculos para produzir a fala, seja pela voz esofágica, pela laringe eletrônica ou pela prótese traqueosofágica. Essa prótese é ofertada pela saúde pública, mas seu preço na tabela do SUS precisa ser reavaliado, observou. O ideal é que as duas tecnologias fossem ofertadas, pois há pessoas que não têm condições anatômicas de receber a prótese, disse ainda.
Audiência no Ministério da Saúde
Ainda nesta quinta-feira, as representantes da ACBG, acompanhadas do deputado federal Valdir Colatto, do senado Dalírio Beber (PSDB-SC) e do secretário de Articulação Nacional, Acélio Casagrande estiveram em audiência com o ministro da Saúde, Ricardo Barros.
Melissa e Luciara entregaram ao ministro uma carta de reivindicações. “Solicitamos a atualização do valor e a incorporação da troca da prótese traqueosofágica e o fornecimento de adesivos e filtros na tabela do SUS. Além disso, incorporação da “laringe eletrônica” também esteve em pauta”, pontuou a vice-presidente da ACBG, Melissa.
O ministro Ricardo Barros se mostrou sensibilizado com a causa e garantiu empenho na agilização dos processos de avaliação das solicitações.
Reivindicação
Ainda em 2014, o deputado Colatto enviou à Presidência da República ofício solicitando a atualização do valor da prótese traqueosofágica na tabela do SUS. “Nossa luta não é de hoje. Acompanho grupos de laringectomizados e sei do valor e da dignidade que o acesso a este equipamento podem proporcionar”, complementou o deputado catarinense.
Com Agência Senado